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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Lágrima púrpura

            Eram grandes amigos. Ele, tudo sabia sobre ela. Ela, tudo sobre ele. Até mesmo de sua paixão incondicional. Este amor ocupou dois terços de sua vida. Tão puro, tão doce, uma inocente paixão. Mas, entre eles nada poderia haver. Ela era um exemplo de pessoa: racional ou profissional, e cultivava um namoro de quatro anos. Ele, um boêmio.

            Moravam distantes, viam-se somente quando ela visitava os pais, que eram seus vizinhos. Ela o procurava – conversavam sobre tudo. Ele se continha ao máximo para não beijá-la. Compôs uma música a ela, mas sabia que jamais teria retorno. Sua vida iniciou com ela e, certamente, terminaria sem ela. Ele a namorava nos seus sonhos.

           
Um dia, após horas de conversas, num passeio de carro – provocado pelo impulso do sentimento engarrafado há mais de dezesseis anos, a beijou. Seus lábios provaram uma tez jamais encontrada. A maciez de sua boca era muito mais doce que comparada a de seus sonhos. O tempo parou naqueles três segundos e só foi interrompido pela lucidez dela, que replicou – entrando a casa sem olhar para trás. Ele, que até aí, não acreditava que este sentimento pudesse amadurecer, mas amadureceu.

Eufórico, cantarolava como criança, sorrindo e amando ainda mais. Mandou-lhe vários e-mails, porém não foram respondidos, o que era atípico. Encontraram-se virtualmente em plena madrugada. Ele, feliz, a perguntou como estava. Ela apenas escreveu a frase “não era pra ter acontecido”. Seu sorriso escorregou ao chão naquele momento.

           Ele se desculpou. Disse que jamais se repetiria. E o que ele mais temia, aconteceu... Ela se afastou.
          Este sentimento explodia em seu corpo e eles mantinham-se distantes

Este era o seu enigma. A sua dor insuportável. O seu fantasma interno. O seu próprio “armagedon”.

            Ficaram tempos sem notícias um do outro. Chorava quando se lembrava dela ou mesmo ao ouvir seu nome.
 Tomou coragem e começou a dedicar seu tempo mais à sua vida profissional. Algo ligado às artes. Escreveu um livro e montou uma banda. Um ano após o encontro que surgiu o beijo, foi a data do lançamento de seu livro, que estava presente também sua banda, que tocou a canção que havia feito a ela, ausente naquela noite especial.

Eis que, de repente, em meio à multidão, aparece junto com o namorado, aquela linda garota, parabenizando-o e pedindo que autografasse seu livro, para lê-lo e guardá-lo com carinho. A música ainda não terminara, mas notava em seus lábios as palavras compostas que ambos sabiam a quem dirigia. Uma tímida lágrima escorreu do rosto do autor e caiu sobre o seu autógrafo. Manchando assim a tinta ainda fresca da dedicação que acabara de escrever. A mancha formou um coração sobre as palavras poéticas, especialmente a ela... Ele nunca mais a viu...

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