Moravam distantes, viam-se somente quando ela visitava os pais, que eram seus vizinhos. Ela o procurava – conversavam sobre tudo. Ele se continha ao máximo para não beijá-la. Compôs uma música a ela, mas sabia que jamais teria retorno. Sua vida iniciou com ela e, certamente, terminaria sem ela. Ele a namorava nos seus sonhos.
Um dia, após horas de conversas, num passeio de carro – provocado pelo impulso do sentimento engarrafado há mais de dezesseis anos, a beijou. Seus lábios provaram uma tez jamais encontrada. A maciez de sua boca era muito mais doce que comparada a de seus sonhos. O tempo parou naqueles três segundos e só foi interrompido pela lucidez dela, que replicou – entrando a casa sem olhar para trás. Ele, que até aí, não acreditava que este sentimento pudesse amadurecer, mas amadureceu.
Eufórico, cantarolava como criança, sorrindo e amando ainda mais. Mandou-lhe vários e-mails, porém não foram respondidos, o que era atípico. Encontraram-se virtualmente em plena madrugada. Ele, feliz, a perguntou como estava. Ela apenas escreveu a frase “não era pra ter acontecido”. Seu sorriso escorregou ao chão naquele momento.
Ele se desculpou. Disse que jamais se repetiria. E o que ele mais temia, aconteceu... Ela se afastou.
Este sentimento explodia em seu corpo e eles mantinham-se distantes
Este era o seu enigma. A sua dor insuportável. O seu fantasma interno. O seu próprio “armagedon”.
Ficaram tempos sem notícias um do outro. Chorava quando se lembrava dela ou mesmo ao ouvir seu nome.
Tomou coragem e começou a dedicar seu tempo mais à sua vida profissional. Algo ligado às artes. Escreveu um livro e montou uma banda. Um ano após o encontro que surgiu o beijo, foi a data do lançamento de seu livro, que estava presente também sua banda, que tocou a canção que havia feito a ela, ausente naquela noite especial.
Eis que, de repente, em meio à multidão, aparece junto com o namorado, aquela linda garota, parabenizando-o e pedindo que autografasse seu livro, para lê-lo e guardá-lo com carinho. A música ainda não terminara, mas notava em seus lábios as palavras compostas que ambos sabiam a quem dirigia. Uma tímida lágrima escorreu do rosto do autor e caiu sobre o seu autógrafo. Manchando assim a tinta ainda fresca da dedicação que acabara de escrever. A mancha formou um coração sobre as palavras poéticas, especialmente a ela... Ele nunca mais a viu...
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