Casados já há algum tempo, ele sempre fora apaixonado pela esposa, que se distinguia pela beleza dos olhos. Brigavam muito, porém, sempre, sempre que ele se deparava com aqueles olhos seu coração amolecia.
Jamais discordaria do que ela o propusesse. Ao lado da mulher, tudo era iluminado. Ele sempre fora pacífico, amável e pulcro; ela, amarga, déspota; tudo deveria ser do seu jeito ou estaria tortuoso. Chegava em casa, já no alvorecer, normalmente embriagada, e insultava-o. Ele se irritava, mas bastava sentir a presença daqueles lindos olhos cor de anis, que tudo se resolvia e estava bem.
Certa vez, chegara com marcas pelo pescoço e escoriações nos braços. Ele achou estranho e quis saber o que houve. - Ela, então, desatarraxou o cabo de metal do rodo que estava na copa e bateu-lhe várias vezes, sem piedade. Enquanto o surrava - gritava: “Não é da sua conta... Você não manda em mim...”. Ele, mais forte, segura o cabo com uma das mãos e com a outra a esbofeteia. Irado, prepara-se para golpear a mulher de sua fábula. Ela amedrontada, olhava-o com espanto, já que o marido nunca ousara violência. E ele, encantado por aqueles lindos olhos azuis... pede-lhe desculpas e cai em prantos...
As brigas eram constantes, porém certo dia, assistindo a um programa de TV, chega a mulher e a posiciona na frente - jogando sua bolsa sobre o sofá. Austera - grita e ofende-o com palavras rudes - dizendo traí-lo várias vezes por semana com diversos homens...
Ele, gentilmente, sem se preocupar com o que ela está dizendo - oferece-lhe uma colher do sorvete que está tomando. Ela estapeia borrando-o de creme. Ele, ciente do acontecido, lambe a colher com raiva e olhos de fogo. Aproxima-se dela com o pote de vidro onde estava o sorvete e acerta-o na fronte desacordando-a
Terno, abre o olho dela com paciência e posiciona com a colher abaixo do globo ocular e retira aquela esfera tão amada por ele, separando-as por completo do corpo. Ela ainda respirava e ele iniciou a desmembrar seu corpo com uma afiada faca de cozinha. Tudo fora cortado em pedaços menores e colocado no congelador. Sua esposa, aos poucos, se consumia no estômago das visitas que saboreavam um delicioso strogonoff - sua especialidade - servido com um vinho do bom... Seus olhos foram postos sobre o seu criado-mudo. Apontados para ele dia e noite. Agora, sim: "ela só tem olhos para ele...".
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